
“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo.” Não me lembro de muitas coisas da minha infância, acredito eu que nada de gravísinimo acontecera. Exceto quando fui apresentado a Hermann Hesse, romancista alemão. Seus romances e contos foram como uma nuvem clara e azul; aquelas que raramente conseguimos enxergar no mundo industrial. Sou grato por quase todos os escritos desse homem terem chegado até mim. Quando menino lia tuas empolgantes histórias que me ensinaram a ser hoje quem sou. E quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser. Não vou dizer também que minha fase adolescente foi calma e suave. Levemente passou pelo meu espírito turbulências que jamais vou esquecer, as quais me foram úteis para seguir em frente. A maré mais alta que tive de enfrentar veio com grandes forças, faustosamente me impediu por um tempo de continuar andando. Mas foi precisamente nesta fabulosa maré que encontrei a Exit Door. Frederich Nitzsche foi como uma viagem navegante extremamente difícil, horas ele deixava-me no fundo do mar horas sobre as nuvens. O prodigioso Camus me faz sentir um estrangeiro, passageiro numa estação de trem. Mas como diaria Ernest Heminghay: “Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado.” Fui ao fundo arriscando-me, aconselhado por Sorën Kierkgaard: “Arriscar-se é perder o equilíbrio por uns tempos, mas não se arriscar é perder-se a si mesmo para sempre.” Ao entregar-me, Montagne nos seus Ensaios trouxe-me a âncora de volta a seu lugar: “O homem não é tão ferido pelo que acontece, e sim por sua opinião sobre o que acontece.” Aprendi mais em Balzac sobre a sociedade francesa da primeira metade do século, do que em todos os livros dos historiadores, economistas e estatísticos da época, todos juntos. Pascal, Sartre, Goethe, De Botton, Thomas Mann, porque não citar também Marco Aurélio, Oscar Wilde, Shakespear e o ilustre Kafka. Que meu espírito seja vivaz, que possa transformar-se em inúmeras fantasias e formas, em pastor e em peregrino, em criança e em animais e principalmente em pássaros e árvores. Isso é muito importante, isso quero e preciso para a minha vida e se um dia não puder mais ser assim e eu tiver que viver a chamada REALIDADE então eu preferirei morrer. Nos livros e nas leituras meu caminhar é mais lento, não me obrigo a correr. Depois de sentir-me cansado em procurar, aprendi a encontrar. Depois de um vento ter-me feito resistência, navego com todos os ventos. Hoje desejo aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Ele escreveu os meus livros...Eles mudaram minha vida..."