segunda-feira, 14 de abril de 2008

Esnobismo

Nos nossos primeiros anos de vida, aqueles onde todos nos acham bonitinhos e engraçadinhos, ninguém se importa muito com o que fazemos ou somos, com o que nos vestimos ou calçamos, com as cores do olhos: pretos ou castanhos. Na verdade, a nossa existência, por si mesma, é o bastante para nos garantir demasiadas atenções e afeto incondicional. Podemos usar roupas com cores alarmantes, ou arrotar durante uma refeição, ou gritar no tom de voz mais alto, ou não se interessar por nada, ou não ganhar dinheiro algum e ainda mais, não ter amigos importantes – ainda assim seremos valorizados. Mas quando chegamos à idade adulta isso significa que ‘devemos’ assumir nosso lugar em um mundo dominado por pessoas indiferentes e esnobes, cujo comportamento está no cerne de nosso desejo em relação ao status. Em 1848 um escritor observou que os esnobes tinham se espalhado pela Inglaterra como ferrovias. Desde então, tornou-se mais comum usar a palavra ‘esnobe’ para se referir à pessoa que praticasse abertamente um preconceito social ou cultural, que declarasse um tipo de pessoa, ou música, ou vinho, ou terno, claramente melhor e superior que outro. Ao estar em companhia de esnobes pode nos enraivecer e nos irritar, porque percebemos que o que somos verdadeiramente – isto é, o que somos excluindo nossa posição social, ou seja, nosso status – poderá governar muito pouco o coportamento deles em ralação a nós. Podemos ser dotados da sabedoria de Salomão e ter os recursos e a inteligência de Ulisses (Odisséia), mas, se somos incapazes de balançar os emblemas socialmente reconhecidos de nossas qualidades, nossa existência continuará despertanto uma fria indiferença neles. Não somos mais aquelas crianças bonitinhas e engraçadas. E para eles - os esnobes – a existência já não basta.

Um comentário:

Anônimo disse...

A Internet, que é uma fábrica de esnobes muitas vezes apioados em personagens criados a patir de imagens - e só imagens - que só existem aqui, às vezes surpreende com bons escribas como você. Mesmo sendo mais difícil continuo apostando no "ser" em detrimento do "ter". É bom saber que ainda existem muitos iguais a mim!
Tenha um ótimo dia!

(Não tinha ligado F. Kafka à "pessoa", mas tinha gostado muito daqui. Já está entre os dez favoritos!)